Abrindo o tema desta semana ( “desejo de integrar”) a Nany colocou no texto de ontem, a possibilidade (e a dificuldade) de se andar pelo caminho do meio. Para mim isso significa viver
dentro das nossas verdades, sem ferir a verdade do outro ou a própria
sociedade/comunidade onde se vive/está inserido.
Bem difícil,
especialmente nos dias de hoje em que o indivíduo existe para a sociedade e não
o inverso. Lembrei então, de um amigo que esteve na Índia
anos atrás, e trouxe de lá uma bela história. Ele ouviu de um senhor na rua, num destes festivais
indianos que fazem multidões celebrarem pelas ruas em comunhão com o que é sagrado para eles. Diz mais ou menos assim:
Um imperador chinês foi visitar um mestre zen e o
encontrou rolando no chão às gargalhadas. O imperador ficou indignado com
aquele tipo de comportamento, pois não era o que se esperava de um homem tão
sábio. Ele repreendeu o mestre dizendo que aquilo era grotesco e que alguma etiqueta precisava existir em público. Disse ainda, que rolando de rir no chão daquele jeito, ele parecia mais um louco. O mestre olhou para o imperador e disse: "você mantém
esse arco sempre esticado e tenso ou permite que ele também relaxe?". Ele estava falando do arco e flecha que o imperador carregava junto a sua vestimenta. O
imperador no mesmo momento respondeu: "Se
eu o mantiver continuamente esticado, ele perderá a elasticidade então não terá utilidade. Ele precisa ficar
solto para que, quando eu precisar, ele tenha elasticidade". O mestre simplesmente respondeu: “É isso que
estou fazendo”.
Para mim este conto
tem um significado profundo e especial.
Quando meu amigo me contou esta história, ele tinha uma intenção:
mostrar o quanto eu estava ficando dura e inflexível ao longo do tempo. Foi
numa época em que realmente eu me defendia de mim mesma, vindo a público com
todas as ferramentas que tinha para me impor. Quem me conhecia de
outros tempos, como esse amigo, percebia que um dos meus dons maiores, era o da
fluidez, da flexibilidade. Mais tarde compreendi que, por medo e insegurança, eu me tornei alguém
que tentava viver dentro do ambiente mais controlado possível e, desta forma, diminuía
todos os grandes riscos: de sofrer, de errar, de me mostrar... E isso me deixava cada vez mais vivendo num extremo sem muito abertura para olhar o todo.
Compreendi
então, graças a esse amigo e a muitas outras pessoas de luz que sempre me
cercaram, que o melhor poder é aquele que cresce na mesma proporção que a
vulnerabilidade.
Para mim isso define bem o caminho do meio. Forte, mas ainda flexível. Uma rosa e não aço.
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